terça-feira, 26 de novembro de 2013

Poesia Bruta - Sobre a faixa Nada mais será

A música mais antiga que estará no Poesia Bruta se chama "Nada mais será". Eu devia ter uns 15 anos quando a fiz!

Tinha acabado de ler a poesia "Cruz na porta da Tabacaria", do heterônimo Álvaro de Campos (pra mim, a melhor pessoa em Pessoa!). Fiquei pensando nessa quebra de rotina causada por uma morte inesperada.

Foi interessante o processo criativo desta música porque ela foi feita de trás para diante! Sim, a primeira frase da música que surgiu na minha cabeça foi o "E nada mais será", pra depois ser criado o "Nada mais foi igual, nada nunca foi e nada mais será". Porque, ao fazer esta, eu sabia que a rotina seria quebrada, mas não com o que; depois sabia que haveria a morte, mas não de quem. E quando fui para o primeiro verso para fazer o começo da música se encontrar com o fim, sabia quem morria, como e onde. Só me faltava o porquê.

Eu espero mesmo que vocês gostem dessa música. Feita aos 15 e lapidada lentamente, até hoje. Segue a letra dela, mas não levem TÃO a sério: é possível que ela ainda seja modificada até o momento em que se aperte o Rec.


Ele veio me falar que estava com problema até demais
Eu, pelo contrário, estava feliz até demais
Tudo o que ele queria era desabafar comigo
Mas eu lhe rejeitei meu ombro amigo
Era dia de festa, eu só pensava em dançar
Noite de farra, a casa estava lotada
Cheia de amigos tão fiéis à balada
Eu que não me engano, eu conheço esse tipo
Que na hora da festa é seu melhor amigo
E quando você precisa, não está nem aí

Eu acho que o deixei falando sozinho
Acho que o troquei por um copo de vinho
Clima melancólico não foi feito pra mim
Ele gritou e todos ouviram o seu grito
Ele chorou e ninguém soube entender
Ele falou em alto e bom som
Que ele não tem nenhum amigo bom
E que a melancolia é tão dura de aturar

Dizendo isso ele subiu a escada
Dobrou o corredor, terminou na sacada
Deu três suspiros, se jogou, morreu
E nem deu tempo de ver o que aconteceu
(...)

A noite foi confusa, consciência pesada
Ele só queria desabafar e mais nada
E eu só não queria também ser desse tipo
Que na hora da festa é seu melhor amigo
Mas, quando alguém precisa, não está nem aí

Eu acho que o deixei falando sozinho
Acho que isso deixou ele mais deprimido
Clima melancólico não foi feito pra mim
Ele gritou, ainda ecoa em meu ouvido
Ele chorou, eu nunca vou me esquecer
Ele falou em alto e bom som
Que o que eu fiz não foi nada bom
E que a melancolia é tão dura de aturar

Dizendo isso ele subiu a escada
Dobrou o corredor, terminou na sacada
Deu três suspiros, se jogou, morreu
E nem deu tempo de ver o que aconteceu
Desse dia em diante algo em mim morreu
A rotina do dia, minha vida perdeu
Nada mais foi igual, nada nunca foi
E nada mais será, e nada mais será

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